Projeto Eclipse - NASA / Brasil - Praia do Cassino, RS, 1966

O Brasil tem contribuído com a pesquisa espacial a muito mais tempo do que imaginam a maioria dos brasileiros.
Dentre os vários projetos que o Brasil participou, um dos que é menos comentados mas de suma importância para o desenvolvimento da humanidade foi o Projeto Eclipse, conforme a descrição detalhada de Adalton Gouveia:
Sem dúvida, o maior volume de medidas visando pesquisa, jamais feito em território brasileiro.
E, certamente, muito difícil de ser repetido com tamanha abrangência, envolvendo medidas em Astronomia, Fenômenos Coronais, Geodésia, Absorção, Geomagnetismo, Ionosfera em suas diversas camadas, Processos Fotoquímicos, Propagação, Radiação Solar em seus vários espectros e Ruídos Atmosféricos.
O eclipse total do sol ocorreu no dia 12 NOV 1966, exatamente às 11:10 hs local, na parte sul do litoral gaúcho.
Para ser mais preciso, a linha de obscuridade começou ao nascer-do-sol no Oceano Pacífico, com uma trajetória descrita sobre o Peru, Bolívia, norte da Argentina e o sul do Brasil, para ingressar no Atlântico Sul até o por-do-sol.
Foram realizados vários experimentos ligados, principalmente, ao estudo do comportamento das altas camadas da atmosfera terrestre durante o período de sombra.
Foi a rara oportunidade para cientistas observarem toda uma série de fenômenos, no breve tempo de alguns minutos.
Para tal, instrumentos foram montados no solo, muitos colocados a bordo de aviões e outros lançados de foguetes.

- MEDIDAS COM FOGUETES INSTRUMENTADOS:

Foi necessário a instalação e desmonte posterior de um Campo de Lançamentos de Foguetes em Cassino, com 8 prédios, 19 plataformas, 7,5 quilômetros de ruas, complexa linha de alimentação de energia elétrica e intercomunicação para 16 “trailers” com radares, computadores e telemetrias.
No curto período da totalidade do eclipse sobre o Campo, foram lançados, simultaneamente,14 foguetes, além de 3 lançados anteriormente, sendo: 5 NIKE-APACHE, 3 NIKE-HYDAC, 4 NIKE-JAVELIN e 5 NIKE-TOMAHAWK.
Não contando os 5 foguetes reservas que foram também montados e desmontados
posteriormente.
Os foguetes destinavam-se a observações na faixa de 100 a 300 quilômetros de altura.
Para completar o quadro de medidas, foram instalados, nas proximidades de Cassino, mais 5 sítios fazendo rastreio, fotografias, transmissão e recepção de dados, com atividades associadas aos foguetes lançados.

Um foguete NIKE-TOMAHAWK no lançador, já pronto para o disparo.

- MEDIDAS FEITAS DE AERONAVES:

Aviões a jato, modificados para a observação do eclipse, representaram significativa participação no Projeto.
Quatro KC-135 e CONVAIR 990, sediados em Porto Alegre, Galeão e Buenos Aires, envolvendo experimentos de 36 organizações científicas, voaram a 10.000 metros, seguindo a faixa de totalidade, com instrumentos necessários para “ver” os efeitos de sombra e luz na ionosfera.

Galileo astronautical research airplane, a modified Convair 990


- OBSERVAÇÕES DO SOLO:

 Em 41 diferentes locais, ao longo da obscuridade, principalmente em BAGÉ-RS, que ocupou quase o centro geográfico da faixa sombreada, com equipamentos especializados e grande número de cientistas ali postados.
Para atender toda a linha técnica e lógistica do Projeto, esforços de várias organizações foram somados.
Da parte dos Estados Unidos, um sem número de universidades compareceu com seus experimentos, equipamentos e técnicos, além da NASA, DASA e SANDIA.

Da parte brasileira, uma associação de esforços da CNAE e GTEPE, com escritórios e pessoal instalados em S. JOSÉ DOS CAMPOS (SP), PORTO ALEGRE, BAGÉ, RIO GRANDE (RS), PRAIA DE CASSINO (RS) e RIO DE JANEIRO, trabalhando integralmente durante quatro meses, foi necessário para
desembarcar e movimentar 800 toneladas de equipamentos destinados a centenas de experimentos e instalações em variados pontos. 
Além da hospedagem e trânsito de 380 cientistas estrangeiros.
A CNAE colocou todo o seu efetivo a serviço do projeto, tanto na área administrativa, como científica.
O GTEPE empregou praticamente todo o pessoal que, de alguma forma, participava do esforço espacial nos quadros da Aeronáutica, inclusive, todo o efetivo do CLFBI.
Setenta oficiais, sargentos e soldados foram convocados para a Praia de Cassino, além de todo o grupo de comunicações do ECA-2 (Segundo Esquadrão de Controle e Alarme), sediado em Porto Alegre.
Vale evidenciar que a operação do Projeto Eclipse foi a mais completa e complexa já realizada, pode-se dizer, no hemisfério sul, envolvendo equipes do Brasil, Estados Unidos, Itália, Holanda e Uruguai. 
Embora a duração da fase operativa tenha sido curtíssima, os resultados, entretanto, foram compensados, trazendo enormes benefícios para toda a humanidade.
Como ficou salientado em fevereiro de 1968, quando em seu auditório, em S. JOSÉ DOS CAMPOS(SP), a CNAE montou o Simpósio do Eclipse, trazendo de volta, os cabeças dos experimentos e discutindo seus valiosos resultados.





 O Campo de Lançamento de Cassino na manhã de 12 de novembro de 1966, dia do eclipse total, com visão dos lançadores para Nike-Tomahawk, alguns já com o foguete devidamente instalado.

Base do Cassino - Lançamento de Foguete - Foto de Ciro Carneiro Filho

Base do Cassino - Lançamento de Foguete - Foto de Ciro Carneiro Filho 

Campo de lançamentos da praia de Cassino na cidade de Rio Grande (RS)

Veja as fontes na íntegra e saiba mais sobre nossa história:

Veja o histórico na NASA: SOUNDING ROCKET RESURGENGE 1965-1968

Localize-se: Praia do Cassino - Local da Plataforma do Projeto Eclipse


 
imagem: oceanografiabrasil.com



Veja as fotos de Ubiratan Freitas no Google Earth





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